Hoje as mulheres são força expressiva no mercado de trabalho, dividindo a responsabilidade econômica com os homens, mas o mesmo não aconteceu com as responsabilidades em relação à educação dos filhos.
Oi Mamães e Papais, hoje trazemos mais uma reflexão do Por que a educação é uma tarefa majoritariamente feminina.
Nesse mês, nossa colunista Carola Videira – Fundadora da Turma do Jiló – que tem como missão lutar por um mundo mais inclusivo fala do papel da mãe e do pai na educação das crianças.
Sua reflexão sobre a maior participação do pai é importantíssima.
E seguiremos, ao lado da Carola e toda sua equipe, levantando esses temas e trabalhando para transformar e criar um futuro melhor para nossos filhos.
Confirma e se gostarem, compartilhem! Ah, e se quiserem deixar um comentário, vá para finalzinho da página!
Os últimos artigos sobre os grupos de Whatsapp da escola acabaram gerando discussões mais profundas: muitas mães começaram a questionar a notável desigualdade de gênero em tudo que concerne à educação dos filhos, desde a divisão de tarefas no ambiente familiar até a estrutura das escolas.
É notório que estamos evoluindo, mesmo que devagar, na discussão sobre a igualdade de gênero no mercado de trabalho.
Cada vez mais empresas criaram políticas de equiparação salarial e do número de homens e mulheres em cargos executivos, por exemplo. Entretanto, esse movimento ainda não chegou na educação de forma consistente.
O sistema educacional ainda vive um desenho baseado na divisão familiar tradicional, onde homens são provedores, trabalham fora, enquanto as mulheres cuidam do lar e da prole.
Na sociedade e cultura brasileira, a educação das crianças vem sendo uma tarefa feminina desde tempos imemoriais e isso não é bom para ninguém, mas principalmente nocivo às mulheres.
O mundo e a sociedade mudaram.
Hoje as mulheres são força expressiva no mercado de trabalho, dividindo a responsabilidade econômica com os homens, mas o mesmo não aconteceu com as responsabilidades em relação à educação dos filhos.
Na grande maioria das vezes, as mães continuam sendo as únicas responsáveis por gerir os processos em relação à escola.
Esse fato se reflete, por exemplo, nos referidos grupos de WhatsApp majoritariamente formados por mães sobre os quais já falamos, mas vai muito além disso.
Nem tudo é um fardo, claro.
Cuidar da educação dos filhos é importante e motivo de orgulho para muitas mães. Não estou aqui julgando quem gosta de estar à frente do processo.
Mas, um cotidiano cada vez mais estressante na divisão de tarefas dentro e fora de casa, as mulheres acabam sobrecarregadas com múltiplas e injustas jornadas de trabalho.
Claro que aqui estamos falando de maioria.
Existem variações na relação dos homens com o processo, mas geralmente a participação é pontual.
Como, por exemplo, na decisão de em qual escola as crianças vão estudar, participando das reuniões de pais uma vez ao mês ou fazendo contato com a escola para resolver algum “problema mais grave” (vou retornar a esse ponto mais adiante).
Contudo, são elas que geralmente organizam, preveem, fazem planos e adiantam possíveis problemas para que as atividades deem certo.
Gerando uma grande sobrecarga mental que a longo prazo se torna bastante problemático, pois é no dia a dia que se encontra a maior carga de trabalho na educação dos jovens.
Quando adentramos os muros da escola, o cenário não é diferente.
O corpo docente em geral é formado por uma esmagadora maioria de mulheres com múltiplas jornadas de trabalho.
O ato de lecionar, principalmente no ensino fundamental e médio, é visto de forma preconceituosa como uma atividade feminina. Outra roda automática de preconceito que precisa ser quebrada.
O machismo, inclusive, se reflete quando os homens vão resolver as tais “questões mais graves” na escola.
Enquanto muitas vezes as mães fatigadas da sobrecarga são tratadas como “descontroladas”, os homens chegam com calma e voz ativa para colocar “tudo no lugar”.
Nada tem de heroico nisso, é apenas a consequência de uma injustiça crônica nas relações.
Um maior equilíbrio de gênero dentro do ambiente escolar ajudaria a mudar a cultura em relação à educação.
Com meninos crescendo com exemplos positivos de homens engajados na educação, com certeza ajudaria a torná-los adultos mais envolvidos na educação dos próprios filhos.
Também não afirmo que seja proposital que os homens não queiram participar, muitas vezes o sistema se desenha de forma tão automática e cômoda que eles podem até não perceber.
É mesmo mais difícil notar quando a cultura o beneficia.
Entretanto, é também fonte de sobrecarga mental ter que explicar e pedir que eles notem e equilibrem a situação. Não deveria ser necessário.
Precisamos quebrar essa roda automática que pune mulheres com o desequilíbrio das tarefas familiares, mas isso não pode ser MAIS UMA das nossas tarefas.
Precisamos que os homens se sensibilizem de forma mais profunda e inteligente em relação a tudo que abrange a família por conta própria. Que assumam definitivamente sua parte na divisão justa das tarefas.
Não é sobre ajudar, é sobre assumir responsabilidade.
Estamos falando de processos culturais profundos e complexos, mas precisamos ter a clareza de que as coisas não precisam ser sempre como foram. É possível e necessário mudar para evoluirmos como sociedade.
Esse artigo é também uma provocação para que os homens repensem sua posição, busquem se conhecer melhor e entender como seus atos impactam a vida de todos a sua volta.
Podemos construir relações muito mais saudáveis para todos, mas é preciso ter CORAGEM.
Coragem para renunciar a privilégios que violentam outras pessoas, inclusive as que vocês amam.
É preciso coragem para reaprender, criar modelos inovadores de convivência, novas formas de se relacionar. Coragem para ser curioso e tentar entender as coisas de uma nova perspectiva, sair do automático realmente.
Finalizo esse texto com um convite aos homens.
Gostaria que vocês refletissem sobre a história das suas relações familiares. Fatos e dinâmicas que consideram que não foram corretas desde a sua infância até aqui.
Quais modelos de relação vocês gostariam que tivessem sido diferentes.
A partir delas, você pode encontrar um caminho para avançar nas suas relações do presente.
Por fim, se você gostou desse post do por que a educação é uma tarefa majoritariamente feminina?, aproveita para ler também: “É preciso ter coragem para viver (e morrer)“, “Turma do Jiló: Lutando por um mundo mais inclusivo e diverso!” e “A violência (nada) discreta nos grupos de Whatsapp dos pais da escola“.