Você ficaria chocada se eu dissesse que não existe instinto materno? Que a mulher não nasceu para ser mãe? Leia sobre a preparação emocional para a maternidade!
Oi mamães, e papais! O texto de hoje, sobre a preparação emocional para a maternidade, deveria ser lido por ambos e compartilhado com muitos!
O texto foi escrito por Ingrid Ferreira, especialista em Psicóloga Perinatal e uma das profissionais parte da Gestar – um dos nossos parceiros de conteúdo.
Ela traz uma perspectiva muitas vezes deixada de lado, mas que deveria começar a fazer mais parte dos assuntos abordados nesse nosso universo.
Temos que falar mais sobre a matrescência.
Se você nunca ouvir falar disso, tudo bem! Mas, está na hora de adicionar esta palavra no nosso vocabulário e nas nossas discussões.
Confiram esse texto sobre a preparação emocional para a maternidade e deixem seus comentários no final! Queremos saber o que acham e sobre a experiência de vocês!
Você ficaria chocada se eu dissesse que não existe instinto materno? Que a mulher não nasceu para ser mãe?
Aí você poderia me responder: “Mas como não? Ser mãe é um dom que só nós, mulheres, temos”.
De fato, biologicamente, uma grande parte das mulheres já nasce com a função reprodutiva ali prontinha. Porém, ser mãe vai além de reproduzir-se, vai além de parir.
A maternidade é um processo, construído durante essa vivência. Muitas vezes, mesmo aquela mãe que quer muito ter um filho vai descobrir que não é tão fácil quanto imaginava.
Se você é mulher, muito provavelmente cresceu ouvindo que “boneca é brinquedo de menina” e carrinho é “brinquedo de menino”.
Que meninas devem brincar de “casinha” e nessa brincadeira, cozinham, lavam louça e cuidam das crianças (representadas pelas bonecas).
Conseguem perceber que sutilmente (ou nem tanto assim) a sociedade vai nos atribuindo esse “desejo” de ser mãe? E crescemos achando que, de fato, é um desejo nosso, que nascemos com ele.
“Desde que eu consigo me lembrar, eu sonho em ser mãe”.
Existe uma enorme romantização da maternidade mantida há anos pela nossa sociedade. É como se nós, mulheres, tivéssemos a obrigação de ser mães e não tivéssemos o direito de escolher não ter filhos.
“Mas como assim você não quer ser mãe? Ser mãe é maravilhoso!”.
Calma, precisamos lembrar que cada maternidade, por ser um processo construído, é única. Não existe um manual de instruções ou uma chavezinha que vira assim que a mulher tem um filho.
Cada mulher vivencia a maternidade de acordo com a sua realidade e suas experiências anteriores.
É preciso muito mais que o amor pelo filho para exercer a maternidade.
Envolve entrega, abdicações, mudanças de rotina, mudanças de planos e estilos de vida. E isso mexe muito com a saúde emocional da mulher.
Você já ouviu falar no termo Matrescência?
Ele significa a transição para a maternidade com todas as suas mudanças físicas e emocionais, assim como passamos por mudanças na adolescência.
No entanto, não costumamos falar sobre matrescência. Esse termo foi, originalmente, utilizado pela antropóloga Dana Raphael, em 1973, e tem sido usado atualmente pela psiquiatra americana Alexandra Sacks para descrever a fase da vida que começa junto com o puerpério – quando a mulher se depara com uma realidade diferente do que ela sonhou, idealizou, podendo desencadear sentimentos de culpa, tristeza, impotência, frustração, incompetência…
Todos esses sentimentos (e alguns outros) são esperados nesse momento, quando a mulher se depara com um novo mundo, uma nova realidade. Quando ela descobre que ser mãe é difícil pra caramba e ninguém avisou.
As pessoas até brincam quando a mulher engravida: “Dorme enquanto você pode”, “Aproveita pra fazer tudo agora, porque depois não vai conseguir”, mas sempre em tom de brincadeira.
Dificilmente, alguém chega pra mulher e fala: “Amiga, senta-se aqui. Vamos conversar sobre o que acontece depois que o bebê nasce.”
Só não vale dizer que “ser mãe é padecer no paraíso”, ok?
Essa frase é mais um exemplo da romantização da maternidade e isso pode trazer muitos efeitos emocionais negativos para as mães. Falar para uma mãe que todo esse sofrimento vai valer a pena porque nada paga o sorrisinho lindo do bebê não ajuda muito e acaba invalidando o sofrimento da mãe.
Mas então, como ajudar uma mãe a lidar com as emoções no puerpério?
Me perdoem pelo clichê, mas prevenir é sempre o melhor remédio. O ideal mesmo é que a nossa sociedade deixe de ser machista e pare de nos atribuir adjetivos que vão de ternas, quase cândidas, até guerreiras, que dão conta de tudo.
A meu ver, esse olhar só serve para nos manter cuidando da casa e dos filhos, mesmo que trabalhemos “fora”.
No entanto, mudar esse olhar é um processo demorado e precisamos pensar em estratégias paralelas a curto prazo que ajudem essas mães agora.
Existem algumas boas práticas, como ser rede de apoio a essa mãe desde a gestação. A mulher precisa de apoio nesse momento, seja de familiares ou amigos. Precisa de alguém que esteja lá por ela, para ouvir seus relatos de felicidade e também de dúvidas, medos, angústias.
Caso tenha companheiro (ou companheira), este (ou esta) deve honrar o nome e estar sempre ao seu lado, acompanhar de perto a gestação e dividir os cuidados parentais quando o bebê nascer (pai não é rede de apoio, ok?).
Porém, quando uma mulher engravida, parece que perde o direito de se queixar da vida e adquire o dever de ser grata por tudo, afinal não tem nada melhor do que gerar um ser em seu ventre.
E assim, perde também a oportunidade de compartilhar a sua experiência com outras pessoas, já que seus lamentos não serão acolhidos.
Por isso que, além do suporte das pessoas próximas, a mulher também pode (e deve) ela mesma cuidar da sua saúde emocional e preparar-se emocionalmente para a maternidade.
Buscar informações de qualidade e baseadas em evidências científicas é um passo importante. Saber o que acontece durante a gestação e após o parto pode ajudar a mulher a criar expectativas mais próximas da realidade.
É certo que a realidade quase nunca será igual à idealização, mas sabendo o que pode estar por vir, a mulher pode se adequar de forma mais tranquila ou menos turbulenta à maternidade.
Assim, a qualquer tempo, seja ainda na gestação ou apenas durante o puerpério, a mulher pode também procurar ajuda profissional de um (a) psicólogo (a) com foco na perinatalidade.
Certamente, ela encontrará o acolhimento de que precisa e poderá trabalhar as questões relativas às suas emoções e à construção da maternidade de acordo com a sua própria história de vida.
O pré-natal psicológico é bastante indicado como uma ferramenta nesse processo de preparação emocional para a maternidade, funcionando como um facilitador para um maternar mais leve e com menos culpa.
Tente não ser como o Mr. Bean naquele meme em que fica parado olhando uma onda gigantesca vindo em sua direção.
Aprenda a surfar, construa um barco ou lance mão de qualquer estratégia que te faça navegar com mais segurança e tranquilidade.
Escrito por: Ingrid Ferreira, Psicóloga Perinatal, via Gestar
Instagram: @IngridFerreiraPsi