Infertilidade já não é mais um tema incomum entre homens e mulheres. Hoje, trouxemos um relato de mãe sobre a ovodoação depois dos 45 anos! Venha conferir essa história!
Oi Mamães, Papais e todos vocês que sonham em ser pais e estão nessa jornada. Trouxemos o relato sobre a ovodoação depois dos 45 anos.
Convidamos a Luly Correia Vuyk, criadora do Instagram Laços da Fertilidade, para compartilhar o seu relato e sua jornada depois dos 45 para virar mãe!
O relato abaixo é emocionante e temos certeza que muitas de vocês se identificarão ou ficarão inspiradas a seguir com o sonho da maternidade.
Confira abaixo!
Eu comecei a trabalhar muito cedo, aos 13 anos após o falecimento do meu pai e desde então me apaixonei pelo mundo corporativo.
No auge dos meus 25/30 anos, eu não pensava em ter filhos, eu acreditava que filhos atrapalhariam minha carreira, que eu perderia oportunidades e não conseguiria uma recolocação ou uma promoção, o que realmente naquela época fazia muito sentido pra mim.
Todo ano me consultava com ginecologista, mudei algumas vezes e nenhum deles me alertou sobre Planejamento Familiar e aos 41 anos eu senti o peso desta omissão.
Em 2006 eu comecei a trabalhar na área de Telecom como Diretora Comercial.
Trabalhei muito, viajei pelo mundo e através dele conheci o meu marido Roland Vuyk em uma reunião de negócios em São Paulo, ele morava nos Estados Unidos.
Em 9 meses, decidimos morar juntos em Atlanta.
Lembro-me de ter perguntado a ele: “Por que eu? Se quiser construir família, eu não sou a pessoa certa, não quero ter filhos.” Eu estava com 40 anos.
Quando a chave virou?
Pouco menos de um ano, a chave virou. Estávamos deitados, conversando, ele olhou pra mim e perguntou: E se tivéssemos um filho?
Imagina, com seu nariz, minha mão? E eu respondi: Por que não?! Naquele momento senti algo bom e pela primeira vez senti uma vontade grande de engravidar, imaginei barriga crescendo, crianças correndo pela casa e percebi que eu não estava completa.
Combinamos então de ir a um médico para fazer exames e saber se nós dois poderíamos ter filhos, afinal já tínhamos passado dos 40 anos.
Eu estava com 41 anos e ele com 46 anos. Minha única preocupação era ter um filho com alguma deficiência pela minha idade, jamais imaginei tudo o que estaria por vir.
Descobrindo o diagnóstico
Em junho de 2014, veio o diagnóstico, eu entrei para as estatísticas da infertilidade no Brasil, aonde 15% da população é infértil.
Descobri a baixa reserva ovariana, em função da minha idade e que eu somente poderia gerar um filho através de óvulos doados por outra mulher.
Imediatamente eu me fechei. Chorei e pensei que tinha que ter uma outra alternativa, afinal eu precisava de um óvulo só. Eu não me sentia tão “velha” assim. Eu era superativa, saúde perfeitamente bem.
Meu primeiro luto foi saber que não poderia gerar naturalmente um filho e o segundo luto foi descobrir que apesar de ter a medicina e a ciência, eu não geraria um filho com a genética da minha família.
Eu me culpei muito pelo que não me disseram, nunca tinha ouvido falar sobre Preservação da Fertilidade ou Congelamento de Óvulos.
Meu mundo caiu.
Me senti culpada por ter dito que não queria ser mãe, acreditei em castigo de Deus.
Tive vergonha e comecei a questionar os meus valores, que sempre foram muito íntegros e verdadeiros.
Não quiz contar para ninguém, tinha vergonha e segui neste caminho silencioso e solitário.
Como foi o tratamento
Foram quase 4 anos tentando. Passei por todos os processos de Reprodução Assistida no Brasil – entre ciclos cancelados, falhas de implantação, negativos e aborto gestacional.
E ainda, através das técnicas: coito programado, inseminação artificial e fertilização in vitro com meus óvulos. Somente aos 45 anos eu consegui engravidar e levar a gestação gemelar até 33 semanas, através da Doação de Óvulos (Ovodoação).
Quando olhei o rostinho dos meus laços de fita – a Gabriella e a Isabella – embora prematuras, elas estavam saudáveis. Apesar de uma gestação difícil, um mundo novo se abriu.
Eu renasci e agradeci à minha doadora, por ter me dado a chance de viver tudo aquilo.
Eu construí uma família, realizei o maior sonho de uma mulher que é poder gerar o seu filho e independente dos Óvulos terem sido doados, fui eu que as gerei, nutri através do cordão umbilical que estávamos ligadas.
A epigenética é incrível! Elas são minhas! Eu dei Vida com a ajuda de 10 mãos: Deus, meu marido Roland Vuyk, uma Doadora anônima, meu médico e eu.
A Aceitação da Ovodoação
O processo de aceitação não foi fácil e nem tampouco rápido – demorou 1 ano.
Não é fácil você abrir mão da genética familiar. Pode parecer bobo, mas é um apego real. Quando pensamos em ter filhos logo pensamos em parecer conosco, como se isso fosse a chave de tudo.
Depois de ter minhas filhas eu descobri que família e amor está muito além do DNA e eu nunca imaginei que seria tão feliz e realizada com elas. Se soubesse, tinha feito antes.
Eu sempre digo que no processo é importante prestar atenção nos sinais que a vida te dá. Uma gata abandonada na rua me adotou e foi ela que me fez aceitar a Ovodoação, a Mocha.
Depois de um mês resistindo a gatos e meu marido insistindo para eu adotá-la, decidi levá-la ao veterinário, fazer um check-up. Se ela não tivesse nenhum problema eu adotaria e assim foi feito.
Um dia ela ficou doentinha, não era um problema sério, mas eu fiquei com muito medo de acontecer alguma coisa e passava os dias ao lado dela.
A Mocha era o meu apoio psicológico.
Com ela eu falava abertamente sem medo de ser julgada, falava meus medos, até que um dia sentada ao lado dela enquanto ela dormia, eu percebi que estava velando o sono dela e de repente eu coloquei o dedo no nariz dela pra saber se ela estava respirando, que loucura!
Eu estava fazendo com a gata o que minha mãe e minhas irmãs faziam com as crianças para saber se estava tudo bem.
Naquele momento me veio um insight forte e um uma emoção começou a tomar conta de mim e pensei: Como eu posso dizer que não vou amar um filho gerado por mim, através de óvulos doados, se estou enlouquecidamente apaixonada por uma gata, que eu não sei de onde veio, como veio, não tem as cores mais lindas, tem orelha cortada e certamente se eu fosse adotar ou comprar em algum lugar, provavelmente ela não seria a “escolhida”?
No dia seguinte eu estava retomando as consultas para retomar o tratamento.
Ela me escolheu, me adotou e me mostrou que o mais importante não é o caminho e nem a forma, mas sim a chegada.
Eu peguei a Mocha no colo e chorei muito abraçada a ela, eu estava entregue e completamente agradecida por ela ter me escolhido. Agradeci muito a Deus por ter colocado a Mocha no meu caminho e me levado à aceitação e o entendimento da Ovodoação.
Embriodoação (Doação de Embriões)
Eu tinha um total de 6 (seis) embriões e quando minhas filhas completaram 2 anos eu doei os 4 (quatro) embriões excedentes para a Embriodoação.
Não fazia sentido deixar os embriões congelados. Eu já me sentia realizada e completa. Meu coração sempre me disse que eu deveria ajudar outros casais, como eu fui ajudada por alguém.
Eu desejo que quem escolheu estes embriões, sejam tão felizes quanto eu sou com a minha escolha. A doação de embriões no Brasil também é anônima.
Regras para a RHA no Brasil
Todo o processo de Reprodução Humana Assistida no Brasil, deve ser seguido através normas de acordo com a última resolução 2.230/2022, aprovada de CFM (Conselho Federal de Medicina) em 21/09/2022.
A Anvisa (vigilância sanitária) também fez uma alteração importante nas regras da RHA em 26/12/2022, a RDC 771, visando garantir a qualidade e dar mais segurança aos tratamentos de Fertilização in Vitro, principalmente a Doação de Gametas Nacional e Importados.
É importante que os pacientes consultem se as clínicas e banco de gametas estão certificados pela Anvisa.
Como é a minha relação com minhas filhas atualmente
Hoje a Bella e Gabi, meus laços de fita (como as chamo desde que soube que estava a espera de duas meninas), são minhas engrenagens.
Elas me potencializam, me dão vontade de ser melhor a cada dia.
Me pergunto todos os dias: Como pude perder tanto tempo, imaginando que não daria conta e que um filho atrapalharia minha carreira?
Mas de fato, na minha opinião, temos um longo caminho para “furar esta bolha”. Esse sentimento entre muitas mulheres ainda é uma realidade no Brasil.
As meninas nasceram em 2018 e desde então eu decidi que falaria abertamente a minha história.
Eu me sentei com meu marido, perguntei a opinião dele e ele disse que me apoiava no que eu fizesse.
No começo foi difícil morar nos Estados Unidos com as meninas muito pequenas, sem rede de apoio por perto.
Não foi e não é uma tarefa fácil.
Em 2021, com as meninas maiores eu decidi dedicar mais tempo em acolher, informar e conscientizar os pacientes. Foi então que surgiu o Laços da Ovodoação, hoje Laços da Fertilidade, com o objetivo de acolher, informar e conscientizar pacientes sobre a importância da Preservação da Fertilidade e a aceitação da Ovodoação.
Em 2022, escrevi meu primeiro livro infantil contando a minha história de uma maneira lúdica com o título “Laços de Fita no Jardim Encantado – Uma história de Fertilização em Vitro com Óvulos Doados”.
Queria que o livro servisse de apoio às pacientes que precisam desta técnica para ter a chance de gerar seus filhos e também para que possíveis Doadoras possam entender a importância do gesto de doar.
Através da minha experiência, eu direciono pacientes para que seja mais leve esta jornada.
No meu perfil eu explico sobre todos os processos que existem na Reprodução Assistida. Tenho uma comunidade exclusiva e fechada no Telegram, com mais de 300 pessoas, para troca de experiências e apoio para mulheres que precisam da Doação de Óvulos.
Sou Embaixadora da ABRAFE Brasil – Associação Brasileira de Fertilidade. Aqui desenvolvo um trabalho de conscientização e informação voltado para as mulheres no mercado corporativo com o objetivo de que tenham as informações e assim possam tomar suas decisões, sabendo dos riscos.
Eu também direciono o público LGBTQIA+, mostrando o caminho para todos de desejam a Parentalidade de maneira segura. Além disso, eu lidero campanhas sociais pelo movimento Dia de Doar no Brasil (Giving Tuesday, nos Estados Unidos), com os movimentos #DiadeDoarÓvulos, #DiaDeDoarSemen e #BoraCongelar.
Minha história foi de sucesso, mas não sem dor. Hoje, posso garantir que a Ovodoação foi a decisão mais difícil da minha vida, mas também a mais acertada.
Meu maior sonho é que todos os cidadãos tenham acesso à informação e possam ter consciência da importância das possibilidades, podendo assim tomarem decisões seguras no Planejamento Familiar.