Precisamos aceitar que mudamos ao longo do tempo (graças a Deus por isso) e a maternidade é sem sombras de dúvidas um momento de muita ressignificação na vida de toda mulher. Não tente se encaixar na sua vida de antes. Aceite suas transformações e permita-se, você pode se surpreender com o que o mundo tem pra te oferecer.

Oi Meninas! Hoje a mamãe, Thaiz Crepaldi, fundadora da Consultoria de transformação cultura, AvanSer conta de sua jornada! Como ela diz: Aceite suas transformações e permita-se!
Venha conhecer a história dela!
Quando criança, demonstramos interesse por muitas coisas como música, pintura e, às vezes, até culinária. Eu sempre me interessei por algo, digamos, inusitado: o universo corporativo, e passava horas brincando de organizar papéis e de datilografar. Lembro que no auge dos meus onze anos, ainda sem saber exatamente que graduação escolher, já idealizava trabalhar em escritório e vestir ternos tailleurs, que sempre achei puro glamour.
Antes do que esperava, a oportunidade de realizar meus planos surgiu e aos dezoito anos ingressei em uma multinacional. Foi ali que comecei a trilhar meu caminho profissional no universo que antes inspirava brincadeiras infantis.
Fui contratada para trabalhar terceirizada dentro da Procter & Gamble (P&G), uma multinacional de bens de consumo que está por trás de marcas líderes mundiais como: Pampers, Pantene, Gillette e Oral-B. Também é reconhecida por ser uma escola de negócios e marketing. Dois anos depois, após um processo seletivo difícil e concorrido, me tornei funcionária efetiva na área de Trade Markerting e foi nessa companhia que construí por 10 anos uma carreira sólida.
A minha carreira sólida

Ao longo desses 10 anos de carreira naveguei por diferentes departamentos, assumi posições regionais e conheci novas culturas e mercados. Hoje vejo o privilégio que foi poder acompanhar de perto e, posteriormente, liderar estratégias para marcas globais e de muito prestígio, mesmo sendo jovem.
Por trabalhar com marketing, tive acesso a pessoas e experiências que jamais havia imaginado, como conhecer a Gisele Bündchen, visitar a Europa a trabalho e pilotar um carro de Fórmula 1. Quem disse que o marketing não tem emoções?
E se me perguntassem qual o significado de “sonho realizado”, a resposta seria simples e direta: minha carreira. Mas, para que essa dinâmica profissional pudesse acontecer, precisava sacrificar de três a quatro horas diárias no trânsito caótico entre o ABC e São Paulo – algo que no início da carreira não parecia negativo.
Aquele era o período do auge da minha juventude, queria me formar, casar, comprar um apartamento e tantas outras coisas que perder algumas (muitas) horas no trânsito da cidade, na verdade, era algo positivo. Afinal, eu estava conquistando meus sonhos e construindo a carreira que havia idealizado!
Contudo, havia a preocupação: como seria quando me tornasse mãe?

Quando não se é mãe, aquelas 13 horas diárias fora de casa e no mínimo quatro viagens internacionais por ano não parecem nada demais. Mas, quando se é mãe, essa rotina pesa, dói e muitas vezes machuca. E foi exatamente isso que aconteceu comigo.
Em 2014 a cegonha decidiu me visitar em dose dupla. A Giovanna e o Bernardo nasceram em dezembro e com eles renasceu uma nova Thaiz. Uma nova mulher com valores ressignificados. Que não mais se sentia confortável em renunciar à vida pessoal em função do trabalho. Desejava mais flexibilidade para gerenciar seus múltiplos papéis. Que sofria por se ausentar tantas horas dos seus filhos, mas que ainda assim, não queria abandonar sua vida profissional.
Foi como se uma chave tivesse virado dentro de mim. Eu continuava gostando de trabalhar e amava a carreira em marketing. Ainda assim, dentro de mim, estava triste por não poder acompanhar de perto o dia a dia dos meus pequenos.
Quando eles completaram oito 7 meses, retornei de licença maternidade. Na semana que voltei ao trabalho, encarei minha prova de fogo: uma viagem internacional com uma semana de duração. Uma semana que estaria longe dos pequenos.
Os vovós se prepararam para dar assistência no período. Porém, tudo virou de ponta cabeça quando o Bernardo apresentou febre um dia antes da viagem. Algumas horas antes do suposto embarque, ali estava eu no hospital, com um diagnóstico de bronquiolite e meu bebê internado.
Viagem cancelada. Dali pra frente, foram tantas outras doencinhas que enfrentei, assim como ocorre com grande parte das crianças pequenas que vão para a escolinha. Foram momentos difíceis, mas confesso, que não a pior parte. A pior parte era me sentir presa a uma dinâmica que já não me satisfazia. Eu me sentia refém da minha própria vida.

Refém do cargo, salário e posição que conquistei. Por várias vezes pensei em pedir demissão, mas minha renda representava 75% da receita da casa e portanto, parecia impossível se desfazer daquela realidade. Sem falar que eu não tinha apoio do meu marido, na ocasião.
Ao meu redor, eu era incompreendida. Familiares e amigos não entendiam o meu desgosto. A sociedade não permite que mães se sintam insatisfeitas e sobrecarregadas. Me lembro de ouvir que eu não era a única deixando bebês pequenos na escola e enfrentando de deslocamento ao trabalho. Reconheço que isso é uma verdade, porém isso deveria ser motivo para eu ignorar o que estava sentindo?
Parecia um beco sem saída. Por um lado sentia no fundo do meu coração que era tempo de me reinventar, de buscar uma nova dinâmica profissional que me possibilitasse estar mais próxima do dia a dia dos meus filhos. Mas por outro, sentia um medo gigante de me desfazer daquilo que construí com muito esmero e dedicação: uma carreira em ascensão em uma multinacional com um salário de dois dígitos.
Tinha muito medo do arrependimento. Medo de jogar fora uma carreira que eu sabia o valor e não conseguir recuperar. De desonrar tudo o que foi feito para chegar onde cheguei.
Fui encaminhada ao psiquiatra com diagnóstico de crise de ansiedade. Já haviam se passado três anos que eu estava nesse looping de insatisfação, medo e pensamentos “E Se”. Se eu ficar, se eu sair, se eu me arrepender de ficar, se eu me arrepender de sair. O médico chegou a receitar remédio controlado para ajudar com toda essa atividade cerebral.
Certo dia, contando a uma amiga sobre todas essas caraminholas na minha cabeça, ela disse uma frase que ecoou dentro de mim: “Nenhuma escolha é definitiva”.

Com muita sabedoria, ela mostrou que não é porque eu era grata pela carreira que construí, que a carreira precisava ser pra sempre. E que o mesmo ocorria com esse passo que estava planejando. Que uma pausa profissional ou uma nova carreira também não precisaria ser pra sempre. Que se eu enxergasse a vida como um ciclo, talvez fosse menos doloroso conseguir me reinventar.
Aos poucos os pensamentos foram se ajeitando, o marido passou a me apoiar e ajudar com o planejamento financeiro para a transição e o universo, a quem eu pessoalmente atribuo a Deus, também me conduziu para a mudança que precisava.
Tem uma frase que gosto muito que diz: quando a gente dá o primeiro passo o universo se encarrega de colocar o chão. E foi exatamente assim que aconteceu. A P&G, que não fazia reestruturações há anos, precisou cortar algumas vagas para redução de custos e em setembro de 2018 fui informada que a minha seria uma delas.
Na ocasião, meu diretor veio dar essa notícia cheio de preocupação. Quis deixar bem claro que tal decisão não tinha a ver comigo ou com meu desempenho e que por essa razão, eles já estavam buscando uma recolocação em outra área e se preciso, outro país. Durante o comunicado, ele falou que na pior das hipóteses, caso não houvesse uma vaga disponível para mim e fosse preciso me desligar da empresa, sairia com uma gratificação financeira proporcional ao meu tempo de casa.
Aquela notícia foi um bálsamo para os meus ouvidos. A vida me dando coragem de fazer o que precisava ser feito. Um típico empurrãozinho do universo. Após conversar com meu marido, colocar a tal gratificação na ponta do papel, eu voltei para meu diretor e comuniquei que eu mesma optava pelo desligamento.
Tive oito meses até o desligamento efetivo. Tempo mais que suficiente para colocar em ação o meu plano de reinvenção.
Sabia que precisaria baixar o custo de vida, portanto, coloquei o apartamento à venda, reconfiguramos os custos mensais e tudo se ajeitou.
Faz quase três anos que fiz esse movimento de carreira e se tem uma coisa que posso afirmar, sem sombra de dúvidas, é que nunca me arrependi da minha decisão. Sempre soube que eu estava atendendo uma necessidade intrínseca e quando nossas decisões são pautadas em nossos valores, não tem como dar errado.
Nesse intervalo, eu experimentei alguns caminhos profissionais e aprendi muito dessa experiência de reinvenção, mas isso é pauta pra outro artigo.
Atualmente trabalho 100% homeoffice, em uma carreira dinâmica e multipotencial, prestando consultoria em projetos de transformação cultural, dando aulas e workshops e também prestando serviços para uma agência de design. Controlo a minha agenda e isso permite com que eu esteja presente na rotina das crianças e também que tenha mais tempo para mim.
Em termos financeiros – que foi a grande preocupação de toda a transição – fico feliz em contar que minha renda mensal está muito próxima do que eu ganhava como Gerente no mundo corporativo. Não foi do dia pra noite, claro, mas hoje vejo a minha carreira de forma diferente. Existe um mar de possibilidades que às vezes a gente não consegue enxergar por estar presos a nossa própria bolha.
O problema não era meu trabalho, nem o mundo corporativo. Na verdade, a origem de toda a insatisfação e dor foi não aceitar que a vida é feita de mudanças e que, muitas vezes, precisamos desapegar daquilo que não se encaixa mais ao que nos tornamos.
Precisamos aceitar que mudamos ao longo do tempo (graças a Deus por isso) e a maternidade é sem sombras de dúvidas um momento de muita ressignificação na vida de toda mulher. Pra você que ficou comigo nesse texto até aqui, me atrevo a te dar uma dica: Não tente se encaixar na sua vida de antes.
Aceite suas transformações e permita-se, você pode se surpreender com o que o mundo tem pra te oferecer.
Para mais histórias de mães empreendedoras, veja nossa sessão chamada “Mães Empreendedoras” aqui no site!