domingo, 19 outubro, 2025

A Gérbera Laranja: O Combate ao abuso sexual infantil no Brasil

Você sabia que 80% dos casos de abuso infantil acontecem dentro de casa — e 92% nem sequer são denunciados? Um relato comovente e urgente sobre proteção, informação e coragem para o combate ao abuso sexual infantil – de crianças e adolescentes. Então, leia e compartilhe. Faça parte da mudança conosco!

Oi Mamães e Papais! Este post é um verdadeiro chamado ao combate ao abuso sexual infantil.

Nossa colunista Mariana Ruske – pedagoga e fundadora da Senses Montessori School – compartilha uma vivência poderosa no sertão nordestino — repleta de dados impactantes, relatos emocionantes e aprendizados essenciais.

Venha entender o perfil dos abusadores, como identificar sinais de abuso e, principalmente, como a educação sexual pode salvar vidas.

A gérbera laranja, símbolo da causa e da iniciativa do “Maio Laranja” – campanha nacional de combate ao abuso e à exploração sexual de crianças e adolescentes, nos lembra da delicadeza da infância e da urgência em protegê-la.

Ah, e uma expert no assunto que vale a pena acompanhar para seguir com mais informações neste tema é a Leiliane Rocha. Ela tem um trabalho incrível e se dedica integralmente neste tema.

Então, leiam, salvem, compartilhem. É mais do que um post — esse é um guia de proteção.


Na quarta-feira de madrugada, arrumo-me silenciosamente em casa. Meu gato me observa, confuso: “O que ela tá aprontando a essas horas?” A Lúcia, meu braço direito, levanta para se despedir e me tranquilizar para que eu possa deixar meus filhos até domingo. Os próximos dias são incertos, mas sei que preciso chegar logo em Guarulhos.

Horas depois, pouso em Juazeiro do Norte, recebida por um clima gostoso e um acolhimento quase familiar. Lá, conheço pessoalmente, enfim, a Dra. Carmelita de Oliveira, juíza de direito da primeira comarca de São João do Piauí. Juntas, iniciamos uma viagem pelos 500 quilômetros que separam a terra de Padre Cícero da cidade piauiense.

Chegamos tarde e logo começamos nosso trabalho. Durante dois dias, visitamos escolas, comunidades e assentamentos. Conversamos com estudantes, famílias e professores sobre o maior problema que enfrentamos como nação: a violência sexual contra crianças e adolescentes.

Embora o imaginário popular acredite que a vítima típica de violência sexual seja uma mulher adulta, caminhando sozinha à noite, atacada por um estranho, os dados mostram outra realidade.

Em 80% dos casos, a vítima é uma menina ou adolescente, abusada em sua própria casa, por alguém conhecido, muitas vezes da família ou do círculo próximo.

O crime é envolto em tabus, vergonha e coberto por um véu de invisibilidade, com uma subnotificação assustadora de 92%.

Menina pequena de mãos dadas com adulto - combate ao abuso sexual infantil

Com a carta verde da comarca de São João, falei abertamente sobre esse problema: o momento crítico que atravessamos, o perfil e o modus operandi dos abusadores, as situações de risco, a condução de casos, os sinais de abuso em crianças e jovens, a legislação e, enfim, a joia da coroa: a educação sexual.

A comunidade compareceu em peso. Salas lotadas, rostos atentos, olhares fixos, acenos. Sabemos que a violência sexual não é novidade — cerca de 35% dos adultos também a vivenciaram.

Em muitas conversas, consigo enxergar aqueles que carregam essa dor: os olhos transbordam revolta e dor. Mas meu objetivo não é aflorar tristeza, é mostrar, com fatos e ciência, que eles não estão sozinhos e que aquela criança do passado não teve culpa e nunca esteve só. O caminho da proteção passa também pela própria cura, como uma redenção.

A comunidade compartilha casos, faz perguntas e sussurra: “Lembra o que aconteceu com Fulana? Lembra o caso de Ciclano? Foi assim mesmo.” E desabafa: “Nossa, é sempre assim!”

Sim, é assim. Conhecemos o padrão dos agressores, e é por isso que temos a possibilidade, e a responsabilidade, de proteger a próxima geração. Nossas conversas terminam com um chamado: vamos parar de ter medo e agir.

Os encontros encerram em um clima de esperança, orientação e união. Não estamos apenas esperando o próximo ataque. Temos amparo legal e, com informação, podemos combater até a indústria multibilionária da pornografia e do grooming online.

As trocas geram motivação: “Agora sei o que fazer, agora me sinto seguro como mãe, como professora. Existe um caminho.” A rede se articula, infla o peito. Terminamos com abraços, trocas de contatos e a certeza de que estamos juntos.

O sentimento de lutar sozinho ou ser refém da situação pesa, mas que alívio perceber que vivemos as mesmas angústias, dúvidas e ansiedades; e que elas têm onde descansar: na força da informação e de uma comunidade coesa.

Fiquei impressionada com o coração de São João. Eles não varreram o problema para debaixo do tapete! Conheci uma equipe de professores, psicólogos, conselheiros e assistentes sociais extremamente comprometidos, abraçando com paixão a responsabilidade de estar na linha de frente da proteção às crianças. Mães e pais corajosos, conscientes.

Tudo o que precisavam era um empurrãozinho, um norte que trouxesse segurança e confiança. O essencial, São João já tem: vontade, inconformismo e as pessoas certas nos lugares certos.

Ouvi dos amigos: “Nossa, Mari, que trabalho bacana e que coragem!” Com o coração aberto, digo: coragem têm aqueles que vivem esse dia a dia, doando suas vidas para proteger quem precisa.

É difícil ouvir as histórias, secar as lágrimas, acolher crianças e adolescentes negligenciados e confusos. Mas também vi histórias de superação: o pai solo de duas adolescentes que, cheio de coragem, perguntou como explicar uma relação íntima de forma adequada; a mãe que abriu o coração sobre ter ignorado o pedido de ajuda da filha mais velha; as assistentes sociais que trabalham sob ameaças; os psicólogos que se desdobram para atender várias comunidades; as meninas que me convidaram para a crisma; os meninos que pediram para eu voltar logo.

Eu sabia que São João ficaria no meu coração, mas não imaginava que ocuparia tanto espaço. Não esquecerei a pureza resiliente dos jovens da Liberalina Landim, a energia vibrante do assentamento Marrecas, a recepção carinhosa na comunidade Lisboa, a atenção penetrante das famílias no Grajau (e o bolo de doce de leite!).

O auditório transbordante no Instituto Nacional, com duas sessões de profissionais da educação compenetrados e engajados. E afeto não faltou, no estilo nordestino! Por mais sensível que fosse o tema, fui recebida com abraços e sorrisos verdadeiros. Em cada lugar, saí me sentindo em casa.

Deixo aqui meu profundo agradecimento e admiração à Dra. Carmelita, a força serena que orquestrou essa iniciativa. Com sua determinação resiliente e coração incansável, ela constrói um futuro mais seguro para quem precisa. Uma inspiração.

Não é qualquer um que tem peito para usar a gérbera laranja. Mas São João tem.


Um Pocket Guide para te ajudar

Aproveito para compartilhar um guia rápido de educação sexual. Leiam, pratiquem e, acima de tudo, divulguem. Seu filho pode estar seguro, mas não conhecemos a realidade de quem está ao nosso lado.

Quem São as Vítimas e os Abusadores

  • Vítimas: Todas as crianças, sem distinção de classe social ou localização, podem ser vítimas. A maioria dos casos notificados envolve meninas, mas meninos são igualmente vulneráveis. A subnotificação de casos com meninos pode ser maior devido a fatores sociais e culturais, como subestimação do trauma ou medo de impacto na formação. Bebês de poucos dias também podem ser alvos;
  • Abusadores: Contrariando estereótipos, não têm “cara de monstro”. Em 70% dos casos, o abuso ocorre na casa da vítima; em 80%, o abusador é conhecido, muitas vezes um familiar ou pessoa de confiança. A maioria é do sexo masculino, mas abusadoras existem, protegidas por maior subnotificação;
  • Perfil do abusador: Apresenta-se como gentil, confiável, busca proximidade com crianças e conquista quem está ao redor. Usa sedução, coerção ou intimidação para silenciar a vítima, muitas vezes por anos, através do grooming (aliciamento emocional para manipular e facilitar o abuso);
  • Impacto nas vítimas: Crianças abusadas sentem confusão, culpa e angústia, entrando em uma espiral de sofrimento. Muitas nunca relatam o abuso, mesmo adultas, por medo de não serem acreditadas ou por laços com o agressor (ex.: pai, padrasto, avô, tio).

Sinais de Abuso

Crianças raramente comunicam o abuso devido à confusão, grooming, coerção ou limitações cognitivas. Mudanças de comportamento são os principais indicadores:

  • Alterações no sono, apetite, humor ou comportamento;
  • Medo ou aversão a certas pessoas ou situações;
  • Choro frequente ou sem motivo aparente;
  • Atrasos no desenvolvimento motor ou linguístico.

Atenção: Esses sinais não confirmam abuso, mas exigem investigação. O abuso é raramente considerado como causa, apesar da epidemia de casos silenciosos. Famílias e escolas devem avaliar a possibilidade com seriedade.

Menino pequeno abraçado com bichinho de pelúcia e cabeça baixa - Combate ao abuso sexual infantil no Brasil

Como Proteger Nossas Crianças – Educação Sexual

A educação sexual é a principal ferramenta de prevenção, baseada em afeto, confiança, autoconhecimento e respeito. Não erotiza, mas desarma o modus operandi do abusador, informando a criança sobre o que é errado e empoderando-a para agir. Estratégias incluem:

  • Nunca guardar segredos: Ensine que crianças não devem manter segredos, especialmente os que causam desconforto. Qualquer pedido de segredo deve ser relatado ao “círculo de confiança”;
  • Círculo de confiança: Ajude a identificar adultos confiáveis (ex.: pais, professores) com quem a criança pode falar se sentir ameaça ou confusão. Esses adultos devem honrar a confiança, validando a criança;
  • Partes íntimas: Explique o conceito de “íntimo” (algo só meu) e ensine os nomes corretos das partes do corpo (vulva, pênis, ânus, bumbum, seios, coxas). Ninguém deve tocá-las sem consentimento, mostrar suas próprias partes ou imagens inadequadas. Então, use nomes formais, mesmo que haja apelidos (ex.: “pipi”);
  • Pessoas “tricky” (traiçoeiras): Alerte que pessoas gentis ou próximas podem tentar enganá-las, mesmo sendo “legais”. O risco, na maioria, vem de conhecidos dentro de casa, não de estranhos. Pais devem estar atentos a quem frequenta o lar;
  • O que fazer em situações de risco: Ensine a criança a gritar, correr e buscar o círculo de confiança se sentir perigo. Em situações críticas (ex.: sem pais por perto), ela pode dizer: “Pare agora. Eu sei o que você está fazendo. Você não pode fazer isso. Vou contar pros meus pais, e eles vão acreditar em mim.” Essa frase sinaliza ao abusador que a criança está informada, reduzindo o risco, já que ele teme exposição.

Notifique Sempre

  • Obrigação legal: É dever de todos notificar qualquer suspeita de violência sexual contra crianças (ECA, artigo 13);
  • Como notificar: Use o Disque 100 (anônimo e gratuito) ou procure delegacias especializadas. Não é necessário ter provas; a suspeita basta;
  • Não investigue: Deixe a apuração para a polícia e o poder público. Sua função é sinalizar o risco;
  • Conscientização: Trabalhe com escolas, clubes e condomínios para divulgar essas informações. Proteger uma criança é proteger todas;
  • Consequências da omissão: Não notificar pode ser considerado negligência ou cumplicidade, com risco de punição legal. Proteger o abusador perpetua o ciclo de abuso.

Leve a gérbera laranja no peito. Informe, proteja, denuncie.


O que é a simbologia da Gergera Laranja?

A gérbera laranja é o símbolo da campanha “Maio Laranja”, que combate o abuso sexual infantil – de crianças e adolescentes – e a exploração no Brasil. A cor laranja foi escolhida devido à fragilidade e vulnerabilidade da flor, que remetem à infância. O objetivo da campanha é conscientizar a sociedade sobre a importância de denunciar casos de violência sexual e proteger os menores.

O que é o Maio Laranja?

O Maio Laranja é uma campanha nacional de combate ao abuso e à exploração sexual de crianças e adolescentes, que se intensifica durante o mês de maio. A campanha foi criada a partir da mobilização da sociedade após um caso de violência sexual envolvendo uma criança, e busca conscientizar sobre a necessidade de proteção e combate a essa prática.

O papel da gérbera laranja

A gérbera laranja, com sua aparência delicada, simboliza a fragilidade e a vulnerabilidade das crianças e adolescentes, tornando-se um símbolo da campanha. A cor laranja, também associada à flor, reforça a mensagem de que é preciso proteger os menores.

A importância da campanha

A campanha “Maio Laranja” tem como objetivo principal:

Conscientizar a sociedade – Informar sobre a gravidade do abuso e exploração sexual infantil, incentivando a denúncia de casos.

Promover a proteção – Estimular a implementação de políticas públicas e ações que garantam a segurança e o bem-estar das crianças e adolescentes.

Quebrar o silêncio – Incentivar a população a falar sobre o assunto, denunciar casos e buscar ajuda para as vítimas.


Por fim, se gostou desse post da Mariana, aproveite para ler também: “O Parque dos Ratos: Podemos proteger nossos filhos dos vícios?” e “Adolescência e Bullying: Não podemos mais adiar essa conversa“.


Este post do Just Real Moms foi cuidadosamente elaborado por um médico altamente qualificado, trazendo informações confiáveis e embasadas para você. Fique por dentro dos insights e conselhos de um verdadeiro especialista no assunto!
Este post do Just Real Moms foi cuidadosamente elaborado por um médico ou especialista altamente qualificado, trazendo informações confiáveis e embasadas para você. Fique por dentro dos insights e conselhos de um verdadeiro especialista no assunto!

Sobre a Mariana Ruske

Instagram: @SensesSchool

Pedagoga há 12 anos, fundadora da Senses Montessori School e mãe de dois meninos cheios de energia. Especialista em Montessori, já foi engenheira e astrônoma, antes de se render ao fascínio pelo cérebro humano.

Palestrante e ativista, luta pela proteção das crianças contra abusos e violência, acreditando que a educação infantil é a base de uma vida saudável e uma sociedade justa. Para ela, Montessori é o segredo para criar filhos por inteiro — mesmo nos dias mais bagunçados!

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