quarta-feira, 10 setembro, 2025

O Surto de Hepatite em crianças tem te assustado?

Nessas últimas semanas, temos visto muitas notícias sobre o surto de Hepatite em crianças, então trouxemos um especialista para explicar o que está acontecendo!

Surto de Hepatite em Crianças Dr Paulo Telles Pediatra Just Real Moms

Oi Mamães e Papais! Hoje vamos falar sobre esse mega surto de Hepatite em crianças, pois sabemos que tem nos assustado demais!

Nos Grupos de Mães que nossas mães do Just Real Moms participam, esse papo está no topo da lista e a preocupação só aumenta.

Os números são realmente assustadores: “10% das crianças acometidas evoluindo com falência hepática, precisando de transplante e com taxa de óbitos em torno de 2,5%”.

Então, nosso colunista – Dr. Paulo Telles, Pediatra e Neonatologista – fez um SUPER post explicando o que está acontecendo!

Confiram e não deixem de compartilhar, pois tem muita informação importante aqui!

Beijos!


O assunto mais falado nestas últimas semanas no meio pediátrico sem dúvida nenhuma é o aumento do número de casos de hepatite na população infantil, principalmente entre os menores de 5 anos.

A ciência tem avançado bastante na tentativa de esclarecer as possíveis causas para este surto que tem preocupado pais e médicos.

Após 2 anos de Pandemia do Corona-Vírus é natural que, ao surgir uma possível nova doença, que tem mais gravidade que o habitual, que todos fiquemos com a sensação de medo e desespero. Ainda mais quando pensamos em uma doença que tem atingido principalmente crianças.

A Hepatite é uma doença já conhecida e estudada há muitas décadas.

Causa inflamação das células do fígado e apresenta febre, vômitos, diarreia, dor abdominal, pele amarela (icterícia), xixi escuro e fezes esbranquiçadas como principais sinais/sintomas.

Na população infantil a causa infecciosa mais comum é o vírus da hepatite A, que costuma causar quadros leves, na maioria das vezes com sintomas semelhantes a uma gastroenterite viral, com febre, dor abdominal, vômitos e diarréia.

Geralmente é auto-limitada, ou seja o próprio corpo resolve, sendo a evolução para casos graves incomum, em torno de 1 para cada 1000 crianças.

O mais importante é que existe vacina contra este vírus no nosso sistema público de saúde. Por isso não deixe de vacinar seu filho.

O que tem chamado a atenção sobre esta hepatite misteriosa é o número de casos em curto espaço de tempo e principalmente as complicações, muito mais frequentes e intensas que o habitualmente encontrado nas hepatites virais conhecidas.

Os números são alarmantes, com cerca de 10% das crianças acometidas evoluindo com falência hepática, precisando de transplante e com taxa de óbitos em torno de 2,5%.

As teorias sobre possíveis causas têm sido muito estudadas, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já soltou um alerta mundial sobre a doença.

Todos os esforços têm sido feitos para que logo tenhamos mais informações e assim possamos fazer prevenção e tratamento adequados reduzindo o risco para nossos filhos.

Chamo atenção para uma informação muito intrigante que pode nos dar uma pista sobre a causa desta Hepatite.

Um estudo publicado em 1923 descreveu 700 casos de uma Hepatite misteriosa em vários locais dos EUA que ocorreram após uma pandemia (de gripe). Naquela ocasião ocorreram em todas as faixas etárias, diferente do atual que atinge apenas as crianças.

Claro que as condições de saneamento eram bem diferentes. Não tínhamos vacina contra Hepatites, mas chama atenção um surto de Hepatite após uma Pandemia, exatamente como agora.

Naquela ocasião não existia vacina contra gripe, neste momento adultos e crianças maiores de 5 anos estão vacinados contra a Covid, possivelmente explicando a predileção atual por crianças.

Não podemos tirar uma conclusão precipitada de causa direta, mas que se trata de uma coincidência preocupante, não há dúvidas.

O que sabemos até o momento, em termos de números destes casos inexplicáveis de hepatite, é que chegamos a 450 casos e 11 mortes, de acordo com a última atualização do Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças.

Os casos foram relatados em mais de 24 países ao redor do mundo. O Reino Unido e os EUA relataram as maiores contagens de casos até agora.

Mapa OMS Surto de Hepatite em Crianças Dr Paulo Telles Pediatra Just Real Moms

Na União Europeia, 14 países relataram 106 casos coletivamente, com a Itália relatando 35 casos e a Espanha relatando 22 casos. Fora da União Europeia, a Indonésia relatou 15 e Israel relatou 12.

Aqui no Brasil estão sendo investigados 29 casos.

Coloco abaixo as possibilidades mais fortes neste momento para tentar elucidar e tranquilizar todos vocês. O conhecimento prévio epidemiológico adquirido tem ajudado muito para que a ciência possa desvendar este mistério.

A primeira hipótese aventada foi uma Hepatite por um tipo de adenovírus, chamado de adenovírus 41, que foi identificado em 72% das crianças internadas.

No entanto está hipótese vem perdendo força porque já conhecemos este vírus e ele não costuma causar doenças graves.

Normalmente causam apenas diarreia, febre, dor abdominal e vômitos, e os relatos de hepatite por ele até hoje só ocorreram em crianças imunossuprimidas.

Outra informação importante é que não se identificou material genético do adenovírus nas células do fígado em biópsias dos pacientes com a tal Hepatite. Hipótese de mutação deste vírus também não se confirmou, porque os vírus identificados são iguais do ponto de vista genético aos que circulam há décadas.

A hipótese que ganha força e parece começar a elucidar o mistério é uma associação de infecção pelo vírus da Covid-19 e o adenovírus.

Podemos ter uma relação indireta, secundária aos quase 2 anos de isolamento social, período no qual as crianças foram pouco expostas a infecções e não tiveram seu sistema imune estimulado.

Essa “imunidade pior” levaria a quadros infecciosos mais graves após a reexposição maciça com a abertura das escolas, retirada das máscaras e diminuição de medidas preventivas.

Uma resposta imune inadequada pode gerar um quadro mais grave que o habitual pelo adenovírus, assim como temos visto com alguns outros vírus como Vírus Sincicial Respiratório (VSR) e o Metapneumovirus por exemplo. Isso seria justificável nos casos de hepatite que não tem infecção prévia por SARS-CoV-2.

Uma possível alteração na reposta imunológica das crianças, previamente infectadas pela variante Ômicron parece ser a hipótese mais plausível, já que os casos na faixa etária infantil explodiram em dezembro 2021, exatamente no período em as Hepatites começaram a surgir.

Já sabemos que o SARS-CoV-2 causa Hepatite nos casos graves, tem tropismo pelo fígado. Ou seja, tem predisposição em atacar as células hepáticas, inclusive em crianças que tiveram a Síndrome Inflamatória Multissistêmica (SIMP).

A relação direta com o SARS-CoV-2 é a principal hipótese, já que a grande maioria das crianças na Europa e EUA já tiveram contato prévio com a Covid-19.

A hipótese é que seria uma forma de Covid longa na faixa etária pediátrica análoga à que ocorre na SIMP. Na SIMP tem-se resposta inflamatória aguda, com cascata de fatores inflamatórios que atacam, entre outros sistemas, o músculo cardíaco. Na Hepatite seria uma resposta semelhante agredindo o fígado, gerando uma Hepatite aguda autoimune por fatores endógenos imunológicos, mas sem a identificação do vírus no fígado.

O adenovírus pode ser um fator desencadeante, como um gatilho para gerar este processo inflamatório exagerado. Ou, ser apenas uma coincidência já que nesta época do ano 40-60% das crianças terão contato com este vírus.

Vejam que a maioria dos casos têm ocorrido em menores de 5 anos – exatamente a faixa etária sem vacinação contra Covid.

Já sabemos que a vacina diminui o risco de complicações agudas e crônicas pelo COVID e reduz risco de SIMP, o que provavelmente justifica o predomínio da Hepatite na população não vacinada.

Se formos fazer um paralelo com casos de 1923, vemos uma diferença: as Hepatites acometeram todas as faixas etárias e agora só os menores e, infelizmente, não vacinados.

Por isso, neste momento em que seguimos estudando e investigando, as formas de prevenção permanecem as mesmas: higiene de mãos, uso de máscara e principalmente vacinação de todos os elegíveis.

A vacina protege das formas graves e a imensa maioria das crianças que tiveram a Hepatite não estavam vacinadas.

Se você tinha dúvidas sobre vacinar seu filho, espero que mude logo de ideia.

Espero também que logo tenhamos vacinas para todas as faixas etárias acima de 6 meses.

A ciência é nossa única arma contra as doenças e a ignorância.


Se gostou desse post sobre o Surto de Hepatite em crianças, aproveite para ler também: “Uso de nebulizações durante a pandemia da COVID-19” e “A importância de praticar esportes na infância“.


Este post do Just Real Moms foi cuidadosamente elaborado por um médico altamente qualificado, trazendo informações confiáveis e embasadas para você. Fique por dentro dos insights e conselhos de um verdadeiro especialista no assunto!
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Sobre o Dr. Paulo Nardy Telles (CRM 109556 | RQE 93689)

Instagram: @PauloTelles

Esposo, Pai do Léo e da Nina Pediatra e Neonatologista pela Sociedade Brasileira de Pediatria.

  • Formado pela Faculdade de Medicina do ABC
  • Residência médica em pediatra e neonatologia pela Faculdade de Medicina da USP
  • Preceptoria em Neonatologia pelo hospital Universitário da USP
  • Título de Especialista em Pediatria pela SBP
  • Título de Especialista em Neonatologia pela SBP
  • Atuou como Pediatra e Neonatologista no Hospital Israelita Albert Einstein 2008-2012
  • 18 anos atuando em sua clínica particular de pediatria, puericultura

A informação disponível neste site não substitui o parecer de um médico profissional. Sempre consulte o seu médico sobre qualquer assunto relativo à sua saúde, à saúde dos seus filhos e familiares e aos seus tratamentos e medicamentos.

Crédito: Cortesia da Organização Mundial de Saúde (OMS) e Vitolda Klein

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