Temos lido muito e visto matérias sobre transtorno de compulsão alimentar em crianças e adultos, o famoso comer emocional. Mas, o que é, o que causa e como nós pais podemos ajudar?
Oi Mamães e Papais! Hoje trouxemos um conteúdo muito interessante sobre transtorno de compulsão alimentar em crianças.
Acho que todo mundo percebeu que muitas crianças ganharam peso, ficaram mais sedentárias e ansiosas nesses últimos anos, por causa da Pandemia.
Então, hoje a nossa colunista, a endocrinologista Dra. Paula Pires, vai contar o que mudou na nossa rotina, o que é o transtorno de compulsão alimentar, o que pode causa-lo, e dicas de como os pais podem ajudar!
Confira abaixo e conte para nós se sentiu isso dentro da casa de vocês também!
Olá Mamães! Olá Papais! Meu nome é Paula Pires, sou médica endocrinologista, mãe da Rafa e do Miguel e adoro ajudar as pessoas a mudarem o seu estilo de vida! Atendo crianças, adolescentes, adultos e idosos todos os dias em meu consultório!
Tenho paixão por ler e escrever e é uma honra poder trazer um pouco do que vejo no meu dia-a-dia aqui para vocês.
Hoje, quero escrever para vocês sobre duas condições que tenho visto cada vez mais em crianças e adolescentes que me procuram no consultório: o comer emocional e o transtorno de compulsão alimentar.
O comer emocional aumentou durante a pandemia no mundo todo. Com certeza absoluta aumentou no meu consultório.
Ao ficamos dentro de casa, muito coisa mudou:
- Um novo jeito de se relacionar com a comida e com o nosso corpo (quem não ficou de pijama o dia todo?)
- Aumento da exposição a mídias sociais
- Mudanças das atividades diárias e rotina
- Isolamento social
- Alteração de sono por estresse e emoções negativas
- Alteração nas atividades físicas
- Pouco suporte social e regulação emoções (As crianças sentiram demais a falta de interação com amigos)
- Emoções como tédio, medo e ansiedade nunca estiveram tão presentes
Então, com isso muitos de nós acabamos encontrando conforto na comida.
O comer emocional acontece quando comemos na tentativa de mudar uma emoção, ou seja, comer para tentar ficar menos triste, menos ansioso ou ter menos tédio, por exemplo.
Na pandemia o que vi no consultório foi que as pessoas passaram a comer várias vezes ao dia, alimentos de baixa qualidade nutricional, associado ao sedentarismo extremo.
Nunca ficamos tão parados!
Estudos mostram que na pandemia as crianças consumiram 1 refeição a mais por dia, passaram a beliscar mais salgadinhos e bolachas, assim como aumentaram o seu tempo de tela.
Muito disso foi resultado de uma família sobrecarregada com o home office, sem conseguir planejar muito bem as suas refeições, o que pode até ser justificável se formos pensar em toda a reviravolta que passamos nos últimos meses.
Porém, o problema disso é o aumento na taxa de obesidade infantil e o dado que uma criança obesa pode ter o risco de até 84% de ser um adulto obeso.
E o que é o transtorno de compulsão alimentar?
Muitos de nós encontramos conforto na comida. E a maioria das pessoas às vezes come muito mais do que normalmente ou pode ter episódios de comer emocional.
Mas, alguém com transtorno de compulsão alimentar tem uma relação diferente com a comida. Eles sentem que perdem todo o controle sobre o quanto comem e não conseguem parar, mesmo quando estão desconfortavelmente cheios.
Eles comem assim pelo menos uma vez por semana durante vários meses. E depois de uma compulsão, podem sentir ansiedade, culpa e angústia e muitos comedores compulsivos podem sentir-se deprimidos.
Muitas pessoas que comem compulsivamente estão acima do peso. Mas, aqueles com um peso saudável também podem ter um transtorno de compulsão alimentar.
É o transtorno alimentar mais comum e afeta pessoas com sobrepeso e peso médio. Ele começa com mais frequência no final da adolescência ou início dos 20 anos.
Quando crianças ou adolescentes comem compulsivamente, os pais podem suspeitar do problema quando grandes quantidades de comida desaparecem da despensa ou da geladeira.
Como as pessoas muitas vezes se sentem culpadas ou envergonhadas por comer fora de controle, muitas não falam sobre isso ou procuram ajuda.
A compulsão alimentar é diferente da bulimia, outro transtorno alimentar.
As pessoas com bulimia comem compulsivamente, mas tentam compensar os excessos vomitando, usando laxantes ou se exercitando demais para perder peso.
O que causa a compulsão alimentar?
A causa exata do transtorno de compulsão alimentar não é conhecida. Mas é provável que seja devido a uma combinação de fatores, incluindo genética, hábitos alimentares familiares, emoções e comportamento alimentar, como pular refeições.
Pessoas com transtorno de compulsão alimentar são mais propensas a ter outros problemas de saúde mental, como depressão, ansiedade, transtorno de estresse pós-traumático e TDAH.
Sempre que suspeito dessa condição em meu consultório, eu solicito exames de laboratório para verificar problemas de saúde relacionados ao ganho de peso, como pressão alta, alterações hormonais, colesterol alto, apneia obstrutiva do sono e diabetes.
Pessoas com transtornos de compulsão alimentar são melhor tratadas por uma equipe que inclui um médico, nutricionista e terapeuta.
O tratamento inclui aconselhamento nutricional, cuidados médicos e terapia.
O médico pode prescrever medicamentos para tratar problemas de saúde mental relacionados à compulsão alimentar, como ansiedade ou depressão. A mudança de estilo de vida tem bons resultados, mas quando alia medicação para quem tem obesidade o resultado triplica.
Hoje, temos uma medicação que aumenta a saciedade, para o uso de adolescentes de 12 anos ou mais que sejam diagnosticados com obesidade que se chama liraglutida. E temos aprovado pelo o FDA a lisdexanfetamina para diminuir os episódios de compulsão alimentar.
Pode ser difícil para alguém que come compulsivamente procurar ajuda porque tem vergonha de comer demais ou estar acima do peso.
Muitos adolescentes não recebem tratamento para compulsão alimentar até ficarem mais velhos.
Mas, obter ajuda precoce torna a pessoa mais propensa a evitar problemas de saúde relacionados ao ganho de peso.
Como os pais podem ajudar?
Assegure ao seu filho que você está lá para ajudar ou apenas para ouvir.
Incentive hábitos alimentares mais saudáveis, sendo um bom modelo na sua relação com a comida e o exercício. Não use comida como recompensa.
Essas dicas podem ajudar seu filho a diminuir os episódios de compulsão:
- Não pule refeições. Defina um horário regular de refeições e lanches. As pessoas são mais propensas a comer demais se ficarem com muita fome. Inclua coisas boas mais do que excluir coisas ruins. A pergunta que mais escuto por aqui é: Pode ter doce em casa?
E eu respondo que pode. Mas não mais que fruta ou legume.
Vocês sabiam que o comer emocional em crianças pode estar muito associado ao excesso de restrição? Não queremos nossas crianças obesas, claro. Mas, vilanizar totalmente alimentos, ficar falando de dieta e comida saudável o tempo todo, esconder guloseimas ou proibi-las demais pode causar o efeito contrário muitas vezes. - Tente fazer pelo menos 4 refeições na mesa em família por semana. A refeição em família pode ser a principal oportunidade para as crianças pequenas desenvolverem familiaridade com uma comida variável e saudável. Eles aprendem muito com a observação. Olham a gente comendo e aprendem muito com a gente e nossas preferências.
- Pratique a alimentação consciente. Incentive seu filho a prestar atenção ao que come e perceber quando se sentir satisfeito.
- Identifique os gatilhos. Ajude seu filho a evitar ou gerenciar coisas que desencadeiam a compulsão alimentar. Maneiras mais saudáveis de gerenciar o estresse incluem música, arte, dança, escrita ou conversar com um amigo. Ioga, meditação ou algumas respirações profundas também podem ajudar seu filho a relaxar. Uma emoção assumida e bem tratada não vira comida.
E ainda:
- Faça um diário alimentar das emoções com seu filho.
- Seja ativo como uma família. O exercício regular pode ser bom e ajudar seu filho a controlar o peso. Lembre-se sempre que: as palavras ensinam, mas o exemplo arrasta. Se perceber que os filhos estão comendo por angústia, ansiedade ou tédio, incentive a criança a brincar e se movimente com eles em brincadeiras, como pular corda, sobe e desce na cadeira, fazer cambalhota na cama.
- O sono também é importante, uma vez que comportamentos alimentares excessivos tendem a ocorrer mais tarde à noite. Tente interromper o uso de telas dentro uma hora antes de dormir.
- Estudos mostram que assistir televisão compulsivamente pode levar a comportamentos de compulsão alimentar e à perda de controle. Esse consumo excessivo, combinado com o uso das redes sociais – que também pode provocar uma imagem corporal negativa nas crianças – cria as condições para a compulsão alimentar.
Adicionalmente, o ambiente familiar e o exemplo são importantes e vejo que sempre que faço intervenções de mudança de estilo de vida nos pais, os filhos emagrecem.
Eles aprendem e se espelham no comportamento dos pais.
Então, concluindo, a obesidade infantil, o comer emocional e a compulsão alimentar em crianças e adolescentes fazem parte de um diagnóstico familiar e o tratamento da família toda é fundamental.
Por fim, se você gostou desse post, aproveite para ler também: “O caminho para a alimentação como um Estilo de Vida, e não uma crença limitante“.
Ah! E não deixe de conferir no nosso Guia de Fornecedores de Produtos & Serivços onde temos 2 curso incríveis no tema Alimentação!
O da Érika Baldiotti, do Mundo BLW, Descomplicando a Introdução Alimentar, caso esteja passando por este momento! Ou, indique-o para aquela Mamãe ou aquele Papai que está precisando de uma ajudinha extra!
E ainda, o Estilo de Vida na Prática, da Dra. Renata Cortella, que vai auxiliar você a criar consciência dos hábitos que não estão contribuindo com seu bem estar e mostrar alguns caminhos para conquistar saúde com um novo estilo de vida!