Pensei na semana passada em escrever sobre o Carnaval. Achei muito óbvio e muito pequeno para o que se passa aqui dentro do meu coração. Há tempos tenho vontade de escrever sobre SER BRASILEIRO e tudo o que isso envolve.
Sim, aqui temos terrores inomináveis. Sequestros, assalto, carro blindado, seguranças e câmeras. Medo. Muito medo. Corrupção, suborno, burocracia, roubalheira, tudo isso gerando desigualdade social. Raiva e injustiça, muita raiva e injustiça.
Lado ruim posto, imagine que esses fatores pudessem ser suprimidos. Se eu disser que a imagem que então se forma na minha cabeça beira a ideia de paraíso, estarei sozinha?
Temos família e amigos morando e criando seus filhos longe do Brasil. Acompanhamos de perto. Viajamos bastante com nossas crianças. Vivemos as culturas “gringas” no mínimo 1/12 do ano. Gostamos de alugar casa e nos integrar à vida dos lugares que visitamos, e não só posar de turistas e observadores. Ao final desse período, sentimos falta.
Falta de quê? De um “não sei quê”, de uma simplicidade, de uma energia, de um astral que são, sim, coletivos, por mais imenso que seja o nosso país.
Ok, Você não gosta de Carnaval. Mas, tem certeza de que não sente nem uma pontinha de afeto pela possibilidade de sorrir e de ser ridículo e parar de trabalhar por uma semana, celebrando e cantando a arte de viver?
Ok, Você não gosta de praia. Está, contudo, seguro de que não é libertador chegar numa praia em que ninguém se conhece e, em dois minutos, ver seu filho partilhando dos brinquedos da barraca vizinha? Além de ter esses mesmos vizinhos olhando suas coisas enquanto dá um mergulho e abre conta no quiosque do cara que nunca te viu mais gorda (nem magra)?
Ok, Você se ressente da informalidade. Mas fala a verdade que não acha espetacular quando a moça do caixa expresso a deixa passar com 13 mercadorias em vez de 10 porque compreende que Você está com pressa para buscar seu filho na escola?
Meu coração é brasileiro. Minha alma é brasileira.
Rezo para que, por motivo nenhum, tenha que criar meus filhos longe de hábitos que cultivei minha vida inteira.
Andar descalça dentro de casa e, às vezes, até na rua de cidades costeiras. Comer jabuticaba, caqui, manga e caju. Encher o copo de gelo antes de colocar água. Chupar gelinho de fontes e cores duvidosas. Ir à feira e ouvir os feirantes gritando e comer pastel com caldo de cana. Achar anormal comer bacon no café da manhã. Não entender como abusivos certos comportamentos perfeitamente válidos (se o tio da obra assobia para Você, dá uma levantadinha na moral e Você não vai mover uma ação contra ele). Comentar a novela das oito com o tio do táxi, a manicure e a sua melhor amiga. Torcer para um time de futebol apaixonadamente, ainda que só quando ele chega na final do campeonato. Entender perfeitamente que não há alternativa possível a parar o mundo em época de Copa do Mundo. Cantar o hino nacional supererrado, aplaudi-lo no final e, mesmo assim, chorar toda vez que o ouvir. Saber empregar expressões como “calor de rachar mamona”, “calça pula-brejo”, “Afe Maria”(mesmo não sendo católico), utilizar a palavra feia que começa com “p” como adjunto adnominal de intensidade (p……frio – designando algo como 19 graus) e milhares de outras coisas.
Ser brasileiro é gostoso. É um estilo de vida. Que, de certa forma, a une a mim, ao índio do Tocantins, ao carioca e ao gaúcho.Vocês que moram fora com seus pequenos, mesmo que eles sejam frutos de casais de dupla-nacionalidade, não deixem o gene brasileirinho que mora dentro deles morrer. Afinal, como? Se Você é uma MÃE REALMENTE BRASILEIRA Você vai entender que “somos brasileiros e….” (complete a frase).
ABRAÇOS PARA TODOS.
Priscila Rocha Leite é colunista do Just Real Moms e escreve aqui toda semana. Para ler (ou reler) o post #15 da Pri, cliquem AQUI.
MUITO BOM!
Texto incriiiiivel!!!!!
Adorei!!!! É isso aí!!! Parabéns Priscila
Às vezes bate um desespero e uma falta de esperança por ver tanta coisa ruim no nosso país, principalmente a corrupção, que é causa de todas as nossas mazelas e da nossa passividade(eu acredito nisso). E fugir não adianta, pois cada lugar tem seus problemas infinitos. Às vezes penso: como queria morar em outro lugar! Mas isso passa logo, pois vejo o quanto somos rejeitados aí fora, principalmente quando se trata de ir morar em outro país.
E o que mais me incomoda é ver o preconceito no Brasil de acordo com a região e a cor. É muito triste ver pessoas agredindo outras como se fosse melhores. Aí quando assistimos à TV vemos brasileiro ser distratado lá fora e até mesmo assassinado. Espero poder criar minha filhinha desprovida de quais preconceitos e que ela olhe para as pessoas simplesmente pelo que elas são.
Só um pequeno desabafo.
E você está de parabéns pelo lindo texto.
Ai, meninas, emocionei super em ler os comentários. Eu arrepio no carnaval, mesmo tendo passado os últimos 13 anos na fazenda no meio do mato. Quer me tirar do sério é ver “gringo” detonando nosso País. É que nem família, só a gente pode falar mal. E olhe lá. Beijos a todas e não deixem a brasilidade morrer, onde quer que estejam! :-)
Isso mesmo, Priscila! Texto coerente e envaidecedor…. Me sinto mais orgulhosa ainda de ser Brasileira! Mesmo tendo optado em formar uma familia longe, minhas raizes nunca poderao ser negadas. E hoje, com filha pequena, eu repito suas palavras: Nao deixarei o genezinho morrer. Farei o meu papel em dividir a minha cultura e esse espirito impar que temos todos os dias… afinal “sou brasileira e nao desisto nunca!”!!!
Otimo !!! ADOREI !!! Eu sou Brasileira, com muito orgulho e morro de saudades dessa zona. Moro fora há 7 anos e sou o tipo da pessoa que assisti o Carnaval pela TV e choro !!! Acho tudo lindo, choro de saudade, choro de não estar ai !!! Tem a melhor frase que antes não entendia muito o significado, mas o grande poeta Tom Jobim descreveu brilhantemente : “Morar nos EUA é bom mas é uma merda, morar no Brasil é uma merda mas é bom” !!!!
Muito bom!!!!! Adorei, e adoro ser brasileira!!!!! Parabens!!! beijos
EXCELENTE com letras maiúsculas mesmo!!!!! Priscila descreveu, escreveu com coração, razão, emoção….amo ser brasileira, sinto o que voce comentou…já tive parentes morando fora por alguns anos, mas voltaram…Brasil é Brasil e pra mim, tudo de bom..apesar de muitas desigualdades, injustiças….mas tem calor humano, alegria etc, etc….amei o texto Priscila.
Rê…ela arrasou né…bjs pra vcs!!!!