Será que 5 dias são suficientes para um pai criar vínculo com seu filho? Descubra por que ampliar a licença-paternidade é urgente – para famílias, empresas e toda a sociedade.
Oi Mamães e Papais, vocês sabiam que ampliar a licença-paternidade pode transformar profundamente o futuro das famílias — e da sociedade?
Em um texto potente e necessário, nosso parceiro e colunista Dr. Paulo Telles – Pediatra e Neonatologista defende por que 30 dias de licença para os pais não é um privilégio, mas sim um direito essencial.
Ele mostra como a presença ativa do pai no início da vida do bebê fortalece vínculos, promove igualdade de gênero e impulsiona o desenvolvimento infantil.
Uma leitura urgente, que traz dados, história e reflexão. Afinal, o futuro começa com o cuidado compartilhado.
Então, vamos à leitura abaixo!
Quando falamos de aumentar a licença-paternidade para 30 dias, infelizmente pensamos imediatamente apenas na relação pai e filho.
Mas permitir que o pai esteja presente neste início da vida é sem dúvidas um projeto para toda família, para toda sociedade.
Os efeitos para toda família, para mãe, criança, pai, para a igualdade de gênero, a valorização do trabalho doméstico e do desenvolvimento humano são fundamentais.
Ousaria dizer que pode ser o início da quebra de um ciclo secular de cuidado com a vida.
Cuidar deste início da vida permite um ambiente mais acolhedor para o bebê e a mãe, possibilitando que o pai ou parceiro seja figura principal e não coadjuvante no cuidado da família. Esse cuidado cria um alicerce firme e necessário para uma mudança emergencial da família e da nossa sociedade tão machista.
Devemos passar por cima das dificuldades previdenciárias, dos preconceitos ainda incrustados na mentalidade dos nossos políticos e dos nossos empresários que ainda acreditam pouco neste papel do homem no cuidado da família. Eles não conseguem enxergar, a longo prazo, que esta mudança trará um benefício para empresa e para a própria previdência.
Afinal temos visto nossa taxa de natalidade cair para números jamais vistos neste país, envelhecendo nossa população, e reduzindo a arrecadação.
Medidas como esta, que estimulam a família a ter filhos, podem trazer um ajuste nesta pirâmide previdenciária.
Será que estamos acordando para esta realidade?
Sim, estudo realizado pela CoPai, Coalizão Licença Paternidade, uma aliança formada por indivíduos, empresas e instituições que atuam pela regulamentação da licença-paternidade ampliada, remunerada e obrigatória no Brasil, mostrou que 92% dos entrevistados apoiam a ampliação da licença-paternidade, sendo financiada pelo governo.
Outro dado do levantamento aponta que 63% dos entrevistados apoiam o aumento da licença para 30 dias.
Mas infelizmente este assunto está parado no congresso há muito tempo.
A Constituição de 1988 ampliou de 1 para 5 dias o tempo de afastamento de homens depois do nascimento de filhos. Em um episódio curioso, sem apoio, mas motivado por uma situação pessoal delicada, o deputado e pediatra Alceni Guerra apresentou durante a elaboração da Constituição uma emenda que previa a licença-paternidade por 8 dias — proposta que foi aprovada pela Constituinte, segundo o Senado Federal. Embora a Constituição tenha estabelecido o direito à licença, a regulamentação específica foi feita por lei, que detalha a duração e as condições da licença.
O texto estabeleceu que o Congresso precisaria regulamentar a licença, algo que segue em aberto há décadas. Estamos chegando no limite do prazo dado pelo STJ, até julho de 2025, para que o congresso decida sobre o PL que define a licença paternidade.
A luta, apesar do apoio popular, é contra o preconceito de alguns deputados que ainda acham que este não é o papel do pai. É contra empresas que não querem custear esta mudança e o governo que se preocupa de forma devida com aumento da previdência.
Mas chegou a hora de tomarmos decisões pensando em investir na primeira infância que é sem dúvidas uma das maneiras mais eficientes de se investir recursos públicos, com altos retornos no longo prazo, tanto em aumento de produtividade da economia, quanto em redução de custos ao Estado.
O interesse não deve estar na próxima eleição, mas sim nas próximas gerações.
A licença maternidade ampliada trás consigo a possibilidade de reduzir a diferença salarial entre gêneros, reduzir a taxa de demissões das mulheres ao voltar da licença maternidade que hoje chega a 50%.
Mais ainda, 24% das mulheres deixam o mercado de trabalho no primeiro ano após o nascimento do primeiro filho e, após dez anos, 15% ainda estão fora do mercado.
Em geral, o patamar salarial da mulher nunca retorna à mesma curva de antes do nascimento dos filhos.
Os efeitos na saúde da criança e do pai são gigantes. Traz benefícios para a saúde e o desenvolvimento da criança, especialmente no que diz respeito ao vínculo pai-filho e ao bem-estar emocional e cognitivo.
Além disso, uma paternidade mais presente pode fortalecer o vínculo familiar, reduzir o estresse materno e aumentar a adesão à amamentação.
Estudos indicam que pais mais envolvidos na vida do filho tendem a ter filhos com melhor desempenho escolar. Adicionalmente, têm menor taxa de evasão do ensino e apresentam menores taxas de comportamentos problemáticos e envolvimento em crimes.
A ampliação da licença paternidade permite ainda que as mulheres tenham mais tempo para se dedicar à recuperação pós-parto e a outras atividades, aumentando sua autonomia.
Uma mudança cultural é fundamental para valorizar o lugar ocupado pelos pais na criação de seus filhos e a licença-paternidade maior é um passo fundamental para iniciar este vínculo de forma adequada.
Será que alguém acredita que o papel do pai é 24 vezes menor que o da mãe nesta etapa inicial do cuidado da criança – afinal esta é a diferença da licença maternidade e paternidade. Será que 5 dias são suficientes para criação de vínculo? Claro que não.
As coisas vidências são contundentes em dizer que os primeiros meses de cuidado junto ao filho são essenciais para a relação pai filho.
Já passou da hora da gente fazer essa pauta avançar, para buscar a igualdade necessária no mercado de trabalho e no vínculo entre os pais e seus filhos.
Preciso trazer para vocês a reação do congresso em 1988 quando o deputado citado anteriormente Alceni Guerra trouxe a pauta da licença paternidade para o então presidente da Câmara dos deputados Ulisses Guimarães.
Em um texto maravilhoso de março de 1988, em sua coluna no Jornal do Brasil a jornalista Marina Colasanti descreve assim:
“Infelizmente o clima foi de riso e chacota, acreditem, o presidente explicou que não havia necessidade de justificativa da proposta da licença paternidade.”
E arrematou com: “…ficamos com a justificativa de Chico Anísio, que diz: Há o dia da mãe e o dia do pai, que é nove meses antes do dia da mãe.”
Frase que poderia ter sido dita em um bar, por um machista tentando fazer piada e justificando que o dia do pai, e, portanto, sua participação em todo o processo de gestação e nascimento do filho, e porque não de criação, se resumiria àquele em que, realizado o ato sexual, a mulher engravida. Papel apenas como doador de seu espermatozoide, isentando assim o homem de qualquer outro papel, eliminando de forma clara a paternidade ativa.
Triste dizer que este pensamento ainda faz parte de nossa sociedade. Talvez seja até pior, afinal são milhões de crianças que não tem nem o nome do pai na sua certidão de nascimento.
O riso inicial mudou ao final de discurso emocionado do pediatra, afinal não havia nada de engraçado na história que ele contava. Sua esposa sofrera problemas no parto e ele teve que, dias antes da votação da constituição, cuidar à noite toda de seu filho recém nascido. O seu relato transformou risos em lágrimas.
E os próprios constituintes se deram conta do erro que cometiam, ao final do discurso emocionado do deputado. Então, aprovaram com 337 votos a favor, contra 67 contrários e 28 abstenções.
Este riso deboche infelizmente ainda ecoa na nossa sociedade quando trazemos este assunto a pauta. Ele traz o preconceito de quem foi criado por um pai pouco participativo e de uma sociedade que ainda vê o papel do pai como provedor e não cuidador.
Devemos quebrar este ciclo cultural e trazer o pai para o núcleo da família junto com a mãe.
A verdade é que o que está sendo proposto é terrivelmente importante em termos de Brasil, diria que até revolucionário.
O que se pedia e seguimos pedindo, não é uma folga extra de 30 dias, mas sim a participação masculina na maternidade.
Mas qualquer coisa a mais traz em si que, passado o momento inicial de pânico e rechaço uma reflexão.
Ser pai transforma, muda e faz o homem evoluir e ser mais completo, sem dúvidas um exemplo muito melhor a ser seguido pelas próximas gerações.
Não se preocupem, muitos países já têm esta experiência de forma muito bem-sucedida. O homem não terá sua masculinidade afetada, e empresas e previdência não quebrarão!
Espero que em 2025, a licença-paternidade não traga risos a casa do povo, mas sim reflexão e mudança.
PL do pai presente, porque 30 dias de licença paternidade é o mínimo.
Por fim, se gostou do post do Dr. Paulo Telles, aproveite leia também: “Não basta ser pai, tem que participar” e “9 cuidados para garantir as férias perfeitas em família!“.

Sobre o Dr. Paulo Nardy Telles (CRM 109556 | RQE 93689)
Instagram: @PauloTelles
Esposo, Pai do Léo e da Nina Pediatra e Neonatologista pela Sociedade Brasileira de Pediatria.
- Formado pela Faculdade de Medicina do ABC
- Residência médica em pediatra e neonatologia pelaFaculdade de Medicina da USP
- Preceptoria em Neonatologia pelo hospital Universitário da USP
- Título de Especialista em Pediatria pela SBP
- Título de Especialista em Neonatologia pela SBP
- Atuou como Pediatra e Neonatologista no Hospital Israelita Albert Einstein 2008-2012
- 18 anos atuando em sua clínica particular de pediatria, puericultura