Oi, meninas, tudo bem?
Hoje nossa querida colunista Carla Poppa, psicóloga infantil, escreveu um texto exclusivo para o Just Real Moms, falando sobre o diagnóstico de hiperatividade das crianças.
Texto super interessante que todas as mães deveriam ler e compartilhar com as amigas!
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Ao invés de falar em hiperatividade, que tal pensar nas relações das crianças muito agitadas?
Quando uma criança é diagnosticada como hiperativa, o médico está confirmando para a família e para a própria criança que ela apresenta uma disfunção cerebral, orgânica e, por esse motivo, precisa da ajuda da medicação e de uma estratégia de cuidados para que consiga se concentrar e permanecer menos agitada no seu dia a dia.
Esse diagnóstico irá, portanto, influenciar nas relações dessa criança. Além disso, ela também será submetida aos efeitos da medicação e aos seus efeitos colaterais, o que torna fundamental que o diagnóstico seja feito de maneira muito criteriosa.
Porém, hoje em dia, não é novidade que existe um excesso nos diagnósticos de hiperatividade. Isso quer dizer que muitas crianças estão sendo tratadas como se tivessem nascido com uma disfunção orgânica sem que antes as relações e as possíveis questões psicológicas decorrentes dessas relações sejam investigadas.
Essa investigação é essencial porque muitas questões relacionais e psicológicas podem levar a criança a apresentar comportamentos de agitação e desatenção que costumam logo ser rotulados com o diagnóstico de hiperatividade.
Existem muitos caminhos possíveis para se entender o sentido do comportamento agitado da criança levando em consideração as suas relações e as experiências emocionais que essas relações provocam na criança.
Um caminho possível é considerar que a criança que é muito agitada, pode não ter desenvolvido o contato com as suas sensações. Uma criança que não reconhece suas próprias sensações, não pode se manter em contato com o que sente para buscar o que precisa e, portanto, não é capaz de agir em direção a um objetivo.
Sem o contato com as próprias sensações é como se a criança não “assentasse” em seu próprio corpo; ela permanece em movimento, “perambulando”, sem uma intenção especifica. Por esse motivo, uma criança que não reconhece o que sente é facilmente distraída por outros estímulos do ambiente.
O desenvolvimento do contato com as próprias sensações costuma ser promovido na relação com os pais nas interações do dia a dia com seu filho. Quando os pais comentam, por exemplo, que o suco que a criança está tomando deve ter um sabor amargo por causa da expressão facial que ela faz.
Ou ainda, quando a criança está tomada por algum sentimento e os pais a ajudam a narrar o que aconteceu e tentam acalmá-la; eles estão nomeando ou ajudando a própria criança a nomear o que sente. Esse cuidado favorece que ela venha a conhecer e se familiarizar cada vez mais com as suas sensações.
Porém, não é raro que os pais quando se sentem sobrecarregados (e muitos pais se sentem sobrecarregados hoje em dia!) entrem em um estado de ansiedade e pressa e passem a enxergar as suas atividades tanto profissionais quanto relacionadas aos cuidados do filho como uma extensa lista de tarefas que precisam ser cumpridas.
Lidar com as atividades a partir de um check list mental é uma estratégia que muitos adultos utilizam para diminuir a pressão que sentem diante de tantas exigências. Porém, é inegável que quando a relação com o filho se restringe ao cumprimento de tarefas, as interações com a criança podem até dar conta das suas necessidades físicas e práticas do dia a dia, mas deixam de lhe oferecer a experiência de familiaridade com as próprias sensações.
Outro caminho possível para tentar entender o sentido do comportamento agitado é considerar que a criança precisa usufruir de uma sensação de tranquilidade para conseguir permanecer concentrada na interação com outras pessoas ou nas atividades que realiza. Essa sensação também é promovida na relação com os pais e com os seus familiares nas interações do dia a dia.
Quando as pessoas que cuidam da criança estão tranquilas ou ainda quando estão conscientes dos seus problemas e da sua capacidade para resolvê-los, elas conseguem, na maior parte das vezes, deixar esses problemas em segundo plano quando estão se relacionando com a criança.
Se, ao contrário, a ansiedade, a angústia ou as preocupações tomam conta da pessoa com frequência, a criança, que está sempre muito atenta à fisionomia das pessoas, entende que algo está errado.
Assim, ela permanece preocupada, sempre alerta ao que está acontecendo ao seu redor e não consegue usufruir da tranquilidade necessária para se concentrar nas suas atividades e se entreter com as suas brincadeiras.
Assim, o que se percebe é que na grande maioria das vezes, a criança excessivamente agitada e com dificuldade de concentração muitas vezes está expressando, a ansiedade, o estresse e as angústias das pessoas que estão ao seu redor. Além da sua dificuldade de se desenvolver nesse contexto.
Nesse sentido, a criança precisa de ajuda e usufruir da tranquilidade necessária para entrar em contato com as suas sensações. E os seus cuidadores também precisam de orientação para que possam tomar consciência dos seus sofrimentos e dos recursos que possuem para lidar com as suas questões.
Se mesmo com as mudanças nas relações, o comportamento excessivamente agitado da criança persistir, é possível considerar a alternativa da medicação. Porém, enquanto esta continuar sendo a principal maneira de se tratar as crianças agitadas é preciso ter consciência de que na maioria dos casos, estaremos permitindo que a criança continue “carregando” e sendo tratada por problemas que não são apenas dela.
Carla C. Poppa
CRP: 06/69989
Psicóloga clínica
http://carlapoppa.blogspot.com
Texto perfeito, passei por isso com meu filho de 3 anos, fui a um homeopata, tomou florais e fez terapia 6 meses. Hoje ele se expressa perfeitamente, não há mais agitação. Paciência e calma são imprescindíveis
Muito interessante a perspectiva abordada! Adorei… vou ver meu filho com outros olhos!
Maravilhoso texto abordou um tema que preocupa a todas as mães. Fiquei mais tranquila com o esclarecimento sobre o assunto que eu tinha tanta dúvida.
Oi bom
Meu filho foi diagnosticado aos 5 anos de idade, sem nenhum exame, só pelo médico olhar.Na época aceitei, pois não sabia mais o que fazer.Hoje lendo esse texto, vejo q na época tinha acabado de separar do pai dele, agora q li esse texto, vejo que pode ter sido uma causa, e que talvez não seja hiperatividade.Mas desde os 5 toma Ritalina, começou com 10mg,e agora tá com 30mg.Peço a Deus todos os dias para livrar ele dá medicação, pois junto com essa, veio outras!!! Parabéns pelo texto, muito esclarecedor.
Preciso de ajuda, estou confusa com tudo isso.
Sou mae pela primeira vez e muitas outras mães já me falaram pra levar meu filho em um neuropediatra para fazer uma tomografia e verificar se tem alguma disfuncao .
Estou confusa muito confusa. Meu filho é extremamente agitado, não senta e brinca por tipo com alguma coisa, não assiste desenho ” não interessa pra ele desenho”.
ME AJUDA LEVO OU NAO EM UM NEUROPEDIATRA?
Obrigada espero uma resposta urgente
Primeiro de tudo você precisa se acalmar. Quanto mais nervosa e ansiosa, mais seu filho irá ficar agitado. Eu posso sugerir a você que antes de iniciar um tratamento com neuropediatra, procure por uma terapeuta ocupacional com especialização em neurologia. Esse tipo de profissional pode te orientar de maneira adequada. Abraços e boa sorte.
Sinceramente estou mas aliviada de ter lido este texto,pois estou passando por tudo isso com meu filho Bryan de 5anos ja estava pronta pra ligar pro pediatra dele pois tenho percebido meu filho muito agitado tenho tido problemas na escola e fico com medo de ter um diagnostico precoce de hiperatividade nele mas esse texto me deixou um pouco aliviada obrigada>
Estou passando pela mesma situação. Chegaram a me chamar na escola para pedir que eu procurasse um psicologo para meu filho de 04 anos. Confesso que ainda estou um pouco perdida. Tenho medo de falhar. Mas as dicas do texto serão importantes para que eu consiga tomar uma decisão quanto aos direcionamentos dos cuidados com meu pequeno.
Excelente texto! Parabéns pela sensível abordagem! Esclarecedora e profissional.
Muito bom o texto (aliás como todo o blog! ♥ ..)
Poucos minutos antes de ver este post eu havia acabado de ler este “Ritalina, a droga legal que ameaça o futuro” – http://outraspalavras.net/outrasmidias/destaque-outras-midias/ritalina-a-droga-legal-que-ameaca-o-futuro/, onde fala justamente dos diagnósticos excessivos de hiperatividade atualmente e dos perigos do uso da ritalina, droga famosa usada no tratamento das crianças ditas “hiperativas”.
Nele a pediatra Maria Aparecida Affonso Moysés, do Departamento de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, declara: “A gente corre o risco de fazer um genocídio do futuro. Quem está sendo medicado são as crianças questionadoras, que não se submetem facilmente às regras, e aquelas que sonham, têm fantasias, utopias e que ‘viajam’. Com isso, o que está se abortando? São os questionamentos e as utopias. Só vivemos hoje num mundo diferente de mil anos atrás porque muita gente questionou, sonhou e lutou por um mundo diferente e pelas utopias. Estamos dificultando, senão impedindo, a construção de futuros diferentes e mundos diferentes. E isso é terrível”